14.11.10

RESIDENCIA PARA ESPIAS (1966), de Jess Franco

Se fosse realizado uma década depois, RESIDENCIA PARA ESPIAS teria excelentes motivos para que o diretor Jess Franco explorasse a sua maior especialidade: PUTARIA! Ele iria às favas com a trama (se é que haveria um roteiro) e passaria o filme inteiro dando zoons em pererecas cabeludas de atrizes robustas. Mas estamos em 1966 e Franco ainda não havia descambado para essas peculiaridades da forma como temos em seus filmes a partir dos anos setenta.

É um trabalho simpático, adjetivo estranho para elogiar um filme deste prolífico diretor, mas é um bom termo para definir esta obra de início de carreira (décimo primeiro filme, na verdade, mas pra quem já fez mais de 190, não é nada). Além de ser uma leve comédia, RESIDENCIA PARA ESPÍAS é um autêntico Eurospy - subgênero criado na esteira dos filmes do agente 007 e gerou uma infinidade de cópias, paródias, homenagens e picaretagens no velho continente, principalmente na Itália e França.

Jess Franco possui alguns exemplares do gênero no currículo (aliás, qual gênero ele não possui?). Para o papel do espião, Franco escalou o americano Eddie Constantine, que no ano anterior havia interpretado outro espião, Lemmy Caution, só que num filme totalmente cerebral, ALPHAVILLE, de Jean Luc Godard. Curioso numa cena logo no início do filme, ele contracena com Howard Vernon, fiel colaborador de Franco, mas que também esteve presente no filme de Godard, no papel do Professor Nosferatu.

Em RESIDENCIA PARA ESPÍAS, Eddie Constantine encarna o agente da CIA Dan Leyton, uma versão de James Bond, só que desprovido de beleza, mas tão mulherengo quanto o espião à serviço de sua majestade. Sua missão é se infiltrar numa espécie de colégio para espiãs americanas na Turquia e descobrir de onde está vazando informações sigilosas que os inimigos do governo americano estão obtendo.

A direção de Franco é caprichada, explora as paisagens turcas sem ficar enrolando o espectador com o excesso de planos vazios como acontece em alguns trabalhos do espanhol, mas já demonstra uma má vontade com a narrativa, algo que de vez em quando fica totalmente em segundo plano em vários de seus melhores filme, os quais são mais experiências sensoriais do que qualquer outra coisa.

Mesmo assim, não recomendaria para quem deseja iniciar-se pelo cinema de Franco. Tirando um certo tipo de humor que surge em alguns momentos, é um filme bem diferente daquilo pelo qual o diretor espanhol é lembrado. Mas é divertido, dos mais acessíveis e muito bem contextualizado como um Eurospy.

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